O Colecionador

16/11/2010


Ele começou com um selo que virou cem em sete dias. Então vidrou-se por calendários com pin ups, por canetas esdrúxulas e por seixos vulcânicos, esse trio, ao mesmo tempo. Também poderiam ter sido borboletas, daquelas que voam paralizadas em gavetas, ou até mesmo chaveiros ou moedas, mas o que ele escolheu depois foram latas, centenas, de cerveja, mesmo as baratas; até que tomou porre delas. E finalmente variou, tentando etiquetar suas emoções – achando que nesta coleção encontraria um fim, contidas em caixas num armário modesto, todas organizadas, nomeadas, identificadas, congeladas.
Controláveis.
Vitrináveis.
Ledo engano.
Seus medos, sólidos demais, perfuravam o papelão… Sua tristeza, artesiana, encharcava todos os cantos e fazia bolor… Sua alegria, extremamente volátil nas condições de armazenamento, escapava sempre por qualquer fresta… Sua raiva, indomada, selvagem, nunca capturada, só o tocaiava… Seu amor, insaciado, invariavelmente definhava, não sobrevivia… E os melhores exemplares que conseguia do seu prazer vinham com pedaços faltantes.
Foi então que percebeu que, durante toda sua vida, fora um compilador voraz de coleções incompletas.
Talvez o melhor do mundo nisso.
Mas… era hora de mudar de novo.